Alternativa

Do resto à sustentabilidade

Projeto dos alunos do curso de Engenharia Ambiental Sanitária da UFPel pode tornar resíduos em ração

Jô Folha -

Com sustentabilidade, o lixo não é problema e pode, sim, ser solução. Um projeto pioneiro desenvolvido por professores e alunos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) pretende criar uma nova fonte de renda aos pescadores da Colônia Z-3. A matéria-prima - neste caso - não se trata de lixo, mas sobras da atividade pesqueira, como casca de camarão, escamas, cabeça e vísceras.

Tudo o que poderia ir parar no meio ambiente de forma irregular pode ser aproveitado. Desde 2013 as formas de utilização destes resíduos são temas de pesquisas nos laboratórios do Centro das Engenharias. O trabalho é liderado pelo professor do curso e coordenador do projeto, Robson Andreazza. O objetivo - além de dar utilidade ao que é descartado - é gerar conhecimento e, agora, auxiliar na instalação de uma fábrica de rações na Colônia.

No início o estudo tratava de realizar análise ambiental, uso, manejo e tratamento dos resíduos oriundos da pesca na Lagoa dos Patos. “Começamos querendo fazer compostagem, mas aí surgiram outros assuntos”, explica Andreazza. Entre eles, o tratamento do resíduo do camarão para produção de quitina e quitosana, utilizadas como biofiltros para despoluir a água (veja no quadro como funciona), e produção de farinhas e ração.

O primeiro passo foi conscientizar a população sobre as questões relacionadas ao dano ambiental provocado pela atividade e o descarte irregular.

O resíduo já foi problema na Z-3. E gerou multas a algumas peixarias com base nas leis e regras do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Jogados na Lagoa, os restos provocavam desequilíbrio ecológico pela grande quantidade de oferta de alimento para outras espécies, como siris e alguns peixes. Além de diminuir a qualidade da água devido à decomposição do material no ambiente. Deu certo.

Com base em palestras e encontros promovidos pela UFPel, a comunidade abriu as portas da Colônia para uma empresa interessada em recolher todo esse material. Agora, o interesse da firma começa a fazer com que os pescadores também percebam as possibilidades do uso das sobras.

Alternativa
Não é à toa que uma fábrica de farinhas e ração envia diariamente um caminhão que sai do município de Lajeado até a Z-3. São mais de 720 quilômetros (ida e volta) para recolher os resíduos. Em época de grande safra, são dois caminhões por dia. Os pescadores não são pagos pelo material, mas ficam livres de multas e obtêm retorno em qualidade ambiental.

As sobras são, sim, valiosas. De acordo com levantamento realizado pela Emater na região, o preço pago aos pescadores pelo quilo da tainha hoje varia de R$ 3,00 a R$ 4,00. Quando um quilo de ração produzida com restos, por exemplo, poderia ser comercializado entre R$ 20,00 e R$ 60,00. “Em alguns casos fazer a ração vale mais a pena que vender o peixe”, comenta o coordenador do projeto.

A proposta já gera interesse de cerca de 15 pescadores e familiares. De acordo com o membro do Sindicato e antigo morador da Colônia, Elio Sabino, a ideia é utilizar a estrutura da antiga cooperativa Lagoa Viva, hoje desativada, para produzir quitina, quitosana (cerca de R$ 100,00 o quilo no varejo), farinha, silagem e ração.

O projeto não é perfeito, segundo Andreazza. Em uma segunda etapa devem surgir novos problemas, como gerenciamento, mas especialistas em cooperativismo e membros do curso de pós-graduação em Administração poderão auxiliar os pescadores com ferramentas de gestão. “Eu acredito que iniciando pequeno e com a comunidade entendendo que é importante pra eles, vai funcionar.”

O projeto pode parecer relativamente pequeno, mas, na visão do coordenador, o experimento na Z-3 pode representar o início de uma mudança no modelo da pesca no Brasil. Hoje a atividade é extrativista, mas pode e deve se tornar sustentável. “Queremos mostrar que a atividade pode ser rentável pescando, produzindo e manufaturando dentro dos preceitos do Conama e do Plano Nacional de Resíduos Sólidos.” Estando dentro das regras, seria difícil não obter sucesso. “É preciso passar deste modelo ultrapassado, arcaico, para o novo.”

Recursos
O projeto da Universidade é financiado desde o início pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs). Mas para tirar a ideia do papel, montar a fábrica e desenvolver um produto que possa ser comercializado, o projeto será enviado para concorrer a verbas do Conselho Municipal de Proteção Ambiental de Pelotas (Compam).

O edital está em fase de elaboração, mas deverá ser publicado em até 60 dias, de acordo com o coordenador do Compam e secretário de Desenvolvimento Rural, Paulo Trajano.

Ainda não foram estabelecidos o valor final nem tetos de cada projeto concorrente. Os pesquisadores da UFPel pensam em solicitar cerca de R$ 200 mil. Segundo Andreazza, será preciso adquirir centrífuga, estufa de secagem industrial e micro-ondas industrial, por exemplo. O edital do Compam fará parte de um programa de apoio a projetos ambientais e usará dinheiro do Fundo próprio do Conselho, com recursos oriundos de multas e licenciamentos. As verbas serão disponibilizadas a trabalhos nos âmbitos de saneamento, áreas verdes e resíduos sólidos.

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